Cinco anos após a chegada dos
primeiros haitianos na cidade, direitos trabalhistas e civis ainda não são
respeitados
Cristiano Migon
geral4@jornalsemanario.com.br
Cristiano Migon
Hilain Julien e
Marie Mika Amede são exemplos de perseverança após sofrerem injúrias raciais na
cidade
Dificuldades como a
intolerância racial e a falta de oportunidade, enfrentada por milhares de
pessoas que deixaram suas famílias em outro país na busca de uma vida mais
próspera, permanecem quase inalteradas após três anos da chegada dos primeiros
haitianos a Bento Gonçalves. O preconceito, a oposição cultural à inserção
social e a atual conjuntura econômica do país têm complicado a permanência dos
imigrantes e são elementos vívidos no dia a dia de quem vem de longe para
tentar o sustento. Contudo, após a criação de uma associação que tem por
objetivo lutar por igualdade e pela defesa de direitos civis, o futuro dos mais
de 1300 imigrantes do município pode mudar.
Criada em julho de
2015, a Associação de Imigrantes Haitianos de Bento Gonçalves (AIHB), que
atualmente conta com 12 membros, visa defender interesses sociais e
individuais, visando à cidadania, os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa, reduzindo as desigualdades na cultura municipal. Entretanto, de
acordo com o presidente Manasse Marotiere, a tarefa é árdua e complexa. "A
AIHB luta para evitar a marginalização da figura do imigrante na cidade. Agimos
por meio de projetos e ações na conscientização do haitiano sobre seus direitos
e deveres como cidadão, proporcionando-lhes condições de sustentabilidade e
desenvolvimento da cidadania", explica.
A associação também
exerce outras atividades como programas de inclusão social, integração com a
comunidade, prestação de auxílio jurídico, orientação sobre costumes locais e
preparação para inserção no mercado de trabalho. De acordo com Marotiere, a
associação já possui duas comissões em funcionamento, de ações esportivas e
culturais, as quais estão trabalhando na elaboração de projetos nas suas
respectivas áreas.
Contudo, em
corroboração a batalha contra uma cultura parcialmente hostil, atualmente, com
a alta do dólar, os imigrantes enfrentam outra adversidade, a redução da
quantidade de dinheiro enviada a suas famílias no Haiti. Com a variação cambial
da moeda americana, as deduções fiscais da transferência para outro país
implicam diretamente no montante repassado. Entretanto, o presidente também
ressalta outra situação ainda mais delicada como agravante à permanência dos
imigrantes no país, a dificuldade para validar diplomas. "O problema não
está recebendo a devida atenção, muitos dos imigrantes que aqui residem possuem
qualificação profissional ou formação em nível superior, contudo, não encontram
informações adequadas para buscar a validação dos seus diplomas no
Brasil", critica. De acordo com o presidente, este entrave somado ao
preconceito intrínseco da sociedade, a dificuldade de comunicação, a falta de
documentação legal e o desconhecimento das leis brasileiras, muitas vezes
acabam por relegar o imigrante às margens da sociedade.